Já não é o primeiro ataque nem o segundo. É o terceiro ataque.
Ela já não comia à mais de 12 horas. Muita fome passou aquela rapariga durante a manhã de quarta-feira.
Quando chegou a casa, deitou-se na cama. Parecia estar à espera que a sua mãe saísse de casa para ela, num ápice devorar a cozinha. Ela própria não sabia o porquê da espera.
Um tempo depois, a mãe saiu de casa, pois tinha uma consulta no hospital por causa da sua voz que não tinha voltado a ser a mesma depois da operação do dia 7 de outubro. O seu pai, doente, estava deitado na cama. Tinha passado a manhã a vomitar.
Ficou "sozinha" em casa, e, para não ir comer, pôs-se a estudar. Estudar ciências! Doenças infecciosas, estudou ela, mas rápido se cansou. Levantou-se e foi para a cozinha. Comeu, comeu e comeu. O pacote da manteiga já não era um pacote com manteiga mas sim um pacote sem manteiga.
Voltou para o quarto. Como tinha o seu pai doente em casa, não fez o que habitualmente faz: vomitar.
Entristeceu, deprimiu e acabou por chorar. Sentiu-se nojenta. Sentiu-se ninguém. Sentiu-se sozinha e viu que, as pessoas à sua volta pareciam estar a evoluir para melhor, a crescer, e ela nada.
Dentro da sua caixinha com flores e sorrisos feita em 2011 no seu primeiro internamento, tinha 2 lâminas, que agora, contem 3. Ela não queria cortar-se, porque os cortes não são compreendidos nem aceites na nossa sociedade, mas sabem uma coisa? Já nada lhe importava. Acabou por fazê-lo.
Alguns minutos passaram e ouviu o pai levantar-se. Ele ia sair de casa, mesmo no estado em que estava. Aproveitou o sucedido e correu para a casa de banho. Nós sabemos para fazer o quê...
Mais tarde, foi fumar como costumava fazer sempre depois de ter o estômago vazio. Parecia estar irrequieta e a respiração começou a ficar descontrolada. Depois de acabar o cigarro, levantou-se. Sentiu que ia cair, mas manteve-se de pé! Começou a andar e, quem a visse pensaria que ela tinha algum problema na anca pois o seu andar estava estranho. A respiração estava fora de controle!
Entrou dentro de casa e bebeu água. Foi para o seu quarto e deitou-se na cama. Com as mãos geladas, de um momento para o outro começou a suar e a dar voltas e mais voltas. Despiu-se até ficar apenas com roupa interior e, com a barriga virada para cima, fechou os olhos.
Uma luzinha amarela apareceu. Ia crescendo, crescendo... Parecia o sol. Um sol deformado. Um sol em forma de mancha que mudava de forma. Esse sol acabou por desaparecer e ela acabou por adormecer.
Uma/Duas horas depois, acordou. Estava gelada!
A mãe estava na cozinha pois ela já ouvira-a mexer em panelas. Sentiu uns passos em direção ao seu quarto. Tapou-se imediatamente com a manta que estava em cima da cama para que ninguém visse o seu corpo nem os seus cortes. Era a mãe. Deu-lhe a má nova que, iria com o pai para o hospital, pois ele dizia-lhe que estava pior. Disse-lhe também que não podia falar. A médica não a deixara porque a sua garganta e a voz não estavam a recuperar como o esperado.
Ela agora está bem. Sozinha em casa, mas está bem.
Uma ela tão idêntica a mim. Uma ela tão igual a mim. Uma ela que sou eu.
"A vida ensinou-me muito mais do que a escola algum dia me poderá vir a ensinar."
c.f.
Tu escreves tão bem. Adoro ler o que tu escreves mas não gosto quando fazes mal a ti própria. Tu não mereces.
ResponderEliminarFicarei com pena se apagares o blog, mas a decisão é tua.
Bjs, fica bem
"Sentiu-se sozinha e viu que, as pessoas à sua volta pareciam estar a evoluir para melhor, a crescer, e ela nada."
ResponderEliminar- Eu, todos os dias. -
tem força <3
Nunca deixes de escrever e não te esqueças de que, partilhando tudo o que ocorre no teu mundo (tão igual ao "nosso", pessoas que percorrem o mesmo caminho que tu) não estás sozinha e terás sempre alguém para te apoiar e ler cada desabafo, cada palavra que possui um significado tão profundo! :D
ResponderEliminarMuitos beijinhos!