segunda-feira, 17 de junho de 2013

Está a chegar...

Estou sem inspiração para escrever, mas preciso de escrever algo. Preciso de deixar marcado numa página de internet aquilo que está a acontecer e aquilo que aconteceu.
São 2 horas da manhã e estou a relembrar-me de tudo o que aconteceu á dois anos atrás... Sim, já passou dois anos e parece que foi o mês passado que fui internada com anorexia nervosa...
Dia 29 deste mês faz 2 anos que fui para o hospital, faz dois anos que a minha mãe me agarrou na minha mão e puxou-me do carro até a uma cama do hospital porque já não conseguia andar, já não tinha força nem para isso. Nesse dia sentia-me vazia. Para ser sincera o meu cérebro já não conseguia pensar, talvez pela falta de nutrientes no corpo, não sei. Fui pesada no hospital e a balança marcou 37,4kg. Quando já estava a soro e deitada os médicos tentaram convencer-me a comer, nem que fosse só um iogurte magro mas a minha teimosia falou mais alto e a vontade de ser magra era muita. Fui para Setúbal de manhã e á tarde fui mandada para Lisboa numa ambulância, queriam internar-me, porque era a única solução para não morrer naquele mês. Estava entusiasmadíssima por andar pela primeira vez de ambulância, enquanto que a minha mãe olhava para mim com preocupação e medo que o meu coração pudesse parar de um momento para o outro. Andava a norte da situação, não me interessava o que me ia acontecer, só sabia que me sentia cansada, sem forças, com os olhos prestes a fechar e sem medo do que me pudessem fazer.
Fui vista por um médico dos seus 45 anos ás 22:30 da noite. Despiu-me para ver o estado do meu corpo e para me fazer umas quantas perguntas. Tinha 12 anos, era um 'bebé'. Estava atrás do médico, sentada na cama de observação e ele estava a escrever. Tentei ler o que ele escrevia e na parte que dizia "Doente diagnosticado:" ele escreveu "Anorexia Nervosa". O médico saiu da sala e eu disse baixinho para a minha mãe "O médico escreveu no diagnóstico que eu tinha anorexia nervosa", ela olhou para mim com lágrimas nos olhos e eu... Sei lá, sentia-me orgulhosa do meu trabalho (é estranho mas era o que eu sentia). Não conseguia acreditar que uma pessoa tão insignificante como eu tinha uma doença daquelas que para mim não era nada de grave.
Logo eu que sempre fui uma rapariga tão saudável, que nunca me tinha chamado de gorda, que até tinha orgulho de ter uma barriga gordinha... Fui internada, posta a soro e ligada ás máquinas do coração á 1 hora da manhã do dia 30/06/2011. Fui injetada 12 vezes, não achavam as minhas veias por isso é que fui picada tanta vez.
A minha mãe passou essa noite comigo no quarto e que por sinal dormiu muito mal. Estive ligada a muitas máquinas que apitavam imenso por causa da minha pulsação ser tão baixa. As máquinas indicavam que a minha pulsação era de 35 batimentos cardíacos por minuto e que quando adormecia os batimentos ainda diminuíam mais. Nessa noite e nesse quarto estava eu, a minha mãe, uma rapariga de 18 anos com uma infeção na úrina (e que infelizmente andava de cadeira de rodas) e uma menina de 11 anos, de cor e sem uma perna.
Na manhã desse dia uma auxiliar voltou a tentar convencer-me a comer, mas voltei a recusar. Estava exausta e tinha acabado de acordar, doía-me o corpo todo e por mais incrível que pareça já não sentia fome à dias . Ainda tinha o meu telemóvel nessa altura e liguei á minha madrinha. Contei-lhe que estava internada com anorexia nervosa e com menos de 40kg. Ela começou a chorar muito tal como a minha mãe e eu não percebia o motivo de tantas lágrimas, afinal de contas só estava um bocadinho magra mas o espelho dizia-me completamente o contrário. Para mim era pura e simplesmente uma doença normal. Por volta das 15h da tarde aparecem 3 médicas no quarto. Uma pedopsiquiatra, uma nutricionista e outra médica que eu nunca percebi muito bem o que fazia. Fizeram-me imensas perguntas ás quais eu comecei a sentir-me insegura e desconfortável. Elas começaram a pôr regras. Umas delas era que se não voltasse a comer que me iriam pôr sonda porque ninguém vive sem comer, todos os objetos eletrónicos iriam ser-me retirados e dados aos meus pais para levarem para casa, não podia fazer nem receber chamadas dos meus familiares nem amigos pelo telefone do hospital, iria passar para outro quarto com duas camas mas iria ficar sozinha, só os médicos, enfermeiros e auxiliares é que podiam entrar no meu quarto, depois de comer  tinha de estar deitada durante 1 hora sem poder fazer nada, sempre que fosse á casa de banho teria de avisar os enfermeiros para eles terem a certeza que não ia fazer exercício físico ou vomitar, entre outras regras. Eles queriam obrigar-me a comer e fizeram-no, isso foi o que mais me custou. Eu não queria comer, não queria engordar. Tinha-me esforçado durante 5 meses para perder 16.6kg e eles queriam estragar o meu trabalho todo, depois de tantas lágrimas e suor. Todas essas regras foram um grande choque para mim, chorei imenso. O meu pai antes de voltar para casa com a minha mãe falou imenso comigo, e a minha mãe chorava imenso tal como eu. Lembro-me tão bem da nossa despedida... Despediram-se de mim e durante quase 1 mês não os vi mais nem falei com eles. Quando eles estavam á porta do quarto do hospital disseram a chorar "Força filha". Eu agarrei-me ao peluche que tinha ao lado e cada vez chorava mais, estava a viver um pesadelo apenas com 12 anos acabados de fazer.
Passei dias a chorar, derramada em lágrimas. Os meus pais eram tudo para mim e de repente tinha 'ficado sem eles'...
Assim se passou 2 meses...
E o resto... O resto não me quero recordar...

Falta 12 dias...

*no meu quarto do hospital também tinha um peluche. Havia duas camas mas era a única que lá dormia... :'c*

1 comentário:

  1. Pensei muito no que escrever aqui.
    Parei e reli todos os seus posts anteriores à esse para ver o que estava acontecendo.
    Posso não ser a pessoa mais adequada a falar, e também não quero interferir ou que sinta que a estou julgando.
    Mas preciso pelo menos tentar-lhe ajudar de algum modo.
    Se eu errar em algum momento perdoa- me okay?

    Vamos lá:
    Bom a separação de seus pais não é sua culpa.
    Nada é sua culpa.
    Sua doença -de corpo e alma- são algo que simplesmente aconteceram e se você não quiser não irá melhorar.
    Eu sinto muito por ter sido internada, Sinto muito por achar que nada vale a pena.
    Sinto muito por não poder tirar sua dor e coloca-la em uma garrafa e atira-la no mar.

    Seja lá o que for acontecer em 12 dias , se puder evitar evite.

    Procure esvaziar a mente.
    Pensar no nada às vezes é melhor do que pensar no tudo.
    Nos faz parar e descansar um pouco.

    Desculpe - me por estar ausente quando precisava.
    Estou presente agora e espero que melhore okay?

    Beijos Catarina , melhoras minha doll

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