segunda-feira, 17 de junho de 2013

Nunca contei a verdadeira história

Ninguém me conhece, essa é a verdade. A minha mãe não conhece o meu 'livro' desde do início, o meu pai muito menos, a minha irmã também não e os meus amigos também não. Apenas eu, somente eu sei de toda a história.
Sempre contei o que me aconteceu e o que acontece por partes, nunca fui capaz de confiar em ninguém para contar tudo desde do início, nunca fui capaz de confiar em mim... As pessoas julgam, criticam como se soubessem de tudo, como se tivessem sentido o mesmo que eu, como se tivessem visto, lido, passado o mesmo que eu. Põem rótulos que nem eles próprios conhecem nas pessoas. Neste mundo a pior doença é o cancro, a mais grave, dizem eles... Será que é a mais grave? Não vou desvalorizar essa doença pois é tão grave como muitas outras.
Quando se fala numa pessoa que comete suicídio por ter uma depressão, o que é que a sociedade pensa? "É maluco/a, não merecia a vida que tinha.", é, é isso que hoje toda a gente pensa, pelo menos quase toda a gente. Na televisão, quando saí uma notícia de uma pessoa que mata um familiar, o que é que as pessoas que estão há nossa volta, que nunca sofreram de doenças a nível psíquico e que têm falta de conhecimento nessa área pensam? "É maluco/a.", "Não merecia ter vindo ao mundo.", "Devia de ter uma morte lenta e dolorosa.", "Merecia um tiro naquela cabeça.". Criticam, criticas profundas, criticas que magoam e que muitas vezes me custa a ouvir.
Não sei o que é que é ter cancro, não sei o que é que é querer comer e não haver comida, não sei o que é que é ser cego, não sei o que é que é ter uma deficiência, não sei o que é que é ser paralítico. Mas sei o que é uma doença. Sei o que é ter Anorexia Nervosa, sei os estragos que ela pode fazer a uma pessoa e á família, sei a dor que é olhar no espelho e odiar o reflexo que vê, ter nojo, sei o que é ter fome, querer comer mas não o fazer por ter um objetivo, uma meta. Sei o que é estar ao lado da morte e não reparar.
Sei o que é Compulsões Alimentares, sei o que é a Bulimia, sei o arrependimento que essas duas doenças causam depois de comer, sei o quanto doloroso é comer e depois vomitar a comida todos os dias a todas as refeições com tanta gente a morrer á fome.
Sei o que é a Auto-mutilação, sei o que é fazer o primeiro corte, sei o que é olhar para os braços e sentir-se arrependido, sei o alívio que um corte profundo trás na mente de uma pessoa, sei o que é olhar para as cicatrizes, sentir orgulho e ao mesmo tempo ter vontade de se esconder por dentro de roupas largas e compridas, sei o que é ver uma mãe prestes a cair numa depressão por ver o filho doente, por ver o filho a matar-se lentamente.
Sei o que é uma Tentativa de Suicídio, sei qual é a sensação, sei qual é a dor.
Também sei o que é ser doente psicologicamente, ouvir críticas não só de desconhecidos e amigos mas também dos pais como se fosse muito fácil mudar a nossa mente.
Hoje ninguém sabe o que trás dentro da cabeça, não valorizam e nunca se interessaram de como o cérebro é importante e a maior arma que nós temos, para o bem e para o mal.
Gostava de poder ser forte, de ter coragem para ultrapassar os transtornos alimentares que tenho, mas não é fácil... Por mais que as pessoas pensem que é, que não ultrapassamos porque não queremos, as coisas não são bem assim. Não sou forte, não acredito mais na felicidade, não acredito que algum dia possa ficar bem. A morte é a solução.
Suicídio não é covardia, não é egoísmo. Digam-me, o que é mais egoísta: cometer suicídio ou forçar alguém a permanecer num mundo onde é tão infeliz?
Para ser sincera já me habituei a isto, entrei num mundo ao lado do dos outros, um mundo que por mais que seja julgado é o meu mundo, ao qual não me arrependo de ter conhecido.
Acredita, quer queiras quer não, o cérebro é a arma mais forte que tens.

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