Não cheguei ao limite, o limite é que chegou a mim

Sei o que é estar apaixonada e ser iludida por mim própria.
Sei o que é ser chamada de gorda na cara, vestir umas calças novas e estarem apertadas, olhar ao espelho e as lágrimas deslizarem pela minha cara por sentir nojo, ódio e raiva daquilo que vejo.
Sei o que é todos os dias, passar horas a fazer exercício físico, cheia de tonturas só porque queria perder peso, só porque queria ser mais magra, ser como todas as outras raparigas lindas.
Sei o que é estar num quarto de hospital, sem falar nem estar com ninguém, apenas a olhar para uma janela durante dias.
Sei o que é estar num quarto, com 4 camas e 4 Anoreticas, uma delas eu, e passar noites a fio a rezar para que no dia da pesagem ganhe mais umas gramas para poder voltar a casa...
Sei o que é voltar a casa meses depois, voltar a entrar no quarto e deitar-me na minha cama com saudades.
Sei o que é o desejo de ser magra, olhar para outras raparigas, olhar para mim e pensar o porquê de ser tão gorda depois de tanto esforço.
Sei o que é ter a primeira compulsão, o sentimento de culpa, a agressividade perante os outros.
Sei o que é fazer promessas a mim própria e não as conseguir cumprir por pura indisciplina.
Sei o que é passar pela primeira vez a lâmina na pele e sentir dor, e ao mesmo tempo alívio.
Sei o que é ter o primeiro pensamento suicida, querer destruir-me, querer morrer sem pensar em mais nada.
Sei o que é engordar, dia após dia com compulsões e odiar cada vez mais o que está no espelho ao ponto de começar a utilizar o número acima nas roupas.
Sei o que é estar apaixonada pela segunda vez, estar feliz (?!), ser acariciada e bem tratada pela pessoa que amo. Mas também sei o que é ser rebaixada, usada, humilhada por essa mesma pessoa.
Sei o que é uma paixão deixar de ser paixão e passar a doença, obsessão, que nos leva á destruição, ás ameaças, a voltar a ter vontade de morrer.
Sei o que é tomar comprimidos em excesso ingenuamente sem saber as consequências.
Sei o que é perder as pessoas que mais amo, fazê-las sofrer... Mas também sei o que é ser esquecida por elas, lembrar-me delas na esperança que elas se lembrem de mim e que venham até minha casa só para passar uma tarde comigo ou até mesmo para me dar um abraço e um beijo.
(...)
- Resumi um pouco de como tem sido tudo desde do início...

Sei, sei, sei. Sei muita coisa, outras desconheço mas não estou disposta a conhecer mais nada.
Sei o que é discutir todos os dias, em todas as fases do dia com alguém que me consegue pôr triste apenas com um simples grito, que me consegue pôr a chorar de desespero e ter cada vez mais certezas que não aguento viver e que quero morrer.
Sei o que é perder amor á vida, não conseguir aguentar o desafio que me deram, que seria viver esta vida mesmo com todas as complicações que ela trouxesse.
Eu sei o quanto é triste querer acabar com a própria vida e ao mesmo tempo querer viver e não haver nada que nos prenda...

... Amanhã ou sábado, Deus decide. Não há ninguém que me impeça... (x)

- Segundo post hoje, desculpem...

Isabelle Caro ♥